13 dezembro, 2006

Cebola

Imagine uma cebola
Suas infinitas camadas
Nuances
Texturas
Suas variadas espessuras
Toda a complexidade, toda a simplicidade

Agora imagine o ponto central
O eixo concêntrico
O ponto equidistante
Aonde a cebola encontra o equilibrio

Esse ponto não existe
É imaginário, como um átomo
Um desatino da imaginação
É quase a falta da razão

Agora pense esse ponto como o universo
Toda o infinito do universo
Todo o absurdo do infinito
Toda a amplidão

E essa amplidão é apenas aquele ponto
Um átomo, uma molécula, um elétron
Um nada
Pense na cebola e suas camadas

E é apenas uma cebola
No universo
No infinito

01 dezembro, 2006

Viver mínimo

A morte me chegou ontem
num impulso, um rasgo de luz, num corte
numa tarde de primavera
A morte me fitou sem pressa
e para seu próprio espanto,
a morte chorou minha espera

Como um vulcão, como a sorte
Se expandiu na amplidão
Com seus imensos braços abertos
Entrou de cabeça na vida
Saiu como um feto rasagando o útero

A morte que não quer mais morrer
Não quer ver a própria morte
A morte, tem um quê de fantástico
De loucura, de lunático
não cansa de tanto morrer
O ponto final
Tão simples como nascer
Tão improvável como viver

A morte me causa espanto
Causa a tormenta, o pavor
O inevitável, instável ser
Querer viver mais, porque?
Pra que mais angústia por morrer?

Aceitemos a morte
Que venha a morte
Nesse silêncio, nessa dor de outono
Como se morre?
Se nada além da vida é mais provável que a própria morte

Bem vinda seja toda a morte

28 novembro, 2006

O formato da flor

Enfim, renasce o crepúsculo da tristeza
Como grandes ciclos, a cabeça reconhece os pés
O fim reconhece o começo
Como um círculo, as mãos em um abraço

Renasce todo o esplendor da esperança
A simplicidade do amor
E só resta esse estranha despedida
Toda poesia
Toda rima terminada em dor

Sentindo o espírito flutuando na luz,
(essa obscura amplidão)
No calor hermético da amizade
Se cala uma enorme carranca
Enterrada em solidão

Ao reconhecer tal sentimento
Ejacula espasmos de felicidade
Se cala, ajoelha, reverencia
Ah! O furor da natureza

Uma criança me enlaça a alma
Dançamos juntos uma suave valsa
Os pés tropeçam no carinho
No respeito
No falar baixo

E ao invocar antigos sonhos
Os reconhece com espanto
Saber que a vida é um eterno recomeço
E sonhar é ter a alma em transe

Na calma, a chama da dor se esvai
Essa eterna folha cai, remoça
Pra brotar um novo amanhecer

08 novembro, 2006

Glauber

Temo pelo olhar profundo
Pelo olhar insano, humano
Temo que me julgem a casca, o avesso
E desmascarem meu pranto
Ah, sórdido encanto
Em minha mente, essa cova profunda
Sinto o inferno da dúvida
O desapego ao semelhante, a qualquer passado
Sinto a indiferença à ousadia, ao amor profano

Sinto o mundo aos meus pés, o calor
E o desconforto da natureza
Com minha presença vã
Me despeço da juventude perdida
Com um olho na ponte, outro no rio
Vivo sem sono, sem desespero
E na urgência pelo amanhã
Me apego ao presente
Esse algo insosso, essa loucura sã
Corro atrás da paixão perdida, melhor, dezenas
Que desaguam nas desilusões
Pra que tamanho mar?

07 novembro, 2006

Paraty


Encontras num momento
Um lamento
Um novo tormento
Um silencio lento
Um breve sussuro
De um mar, um mundo voraz
Tão calmo
Tão violento
Promessas de solidão

Conheces a vida
Marcada
Uma nova jornada
São novas casas
Romances, cenas
Uma lágrima
Que se esconde os sonhos
Cobertos de imensidão

De capelas
suas velas
já conhecem o mundo, universo
E tudo aquilo que foi dito em vão

És o verso do inverso
E provas
Que uma vida
É o bem valioso
Pois vive-se, nasce-se
Cresce-se pelo coração

E amas
Como raíz
Menina aprendiz
Que como prova de amor
Abraça nova profissão

Oxalá e um beijo
minha nova escuridão

26 outubro, 2006

Aos que passam frio

Navego em aguas calmas
Entre corpos de meninos de rua
Entre tantas calçadas
Me sentindo impotente
Diante do esplendor e o desespero
Respiro entre a fluencia de suas línguas
Entre a renascença e o aborto
Entre a lápide e o esgoto

Abro o mundo a minha volta
A razão se incomoda
A minha palavra, o meu desespero
Meu mundo e meu medo
Me cortam como não tivessemos chão
Pai, pão
Mãe, irmão

Nos equilibramos entre o céu a terra
Me vejo na horizontal
No ultimo quebrante
Na noite em que tudo vira ouro
Num passe da mais negra força
Nos olhos da mais linda moça
Serpente de louça

06 outubro, 2006

Pobre

Se a casa sucumbir a chuva,
ou ousar sucumbir ao descaso
Ou se a casa cair por acaso,
Proponho construir sem atraso
Uma casa dessas, abertas, sem frestas

Onde eu e você
Depois do sim
Depois das festas
Vivermos com capim na boca
De bocas abertas

Mas se a casa ainda insiste
E se voce ainda é triste
Saiba que meu amor ainda é forte
E esse vento que desmancha seu cabelo
carrega nossa sorte

Prometo que agarro um emprego
Um terno, um cigarro
Um amparo
Prometo alegria, sutileza
Paz e tristeza

Prometa-me nada mais que o acaso
Geometrias



Pelos espaços em branco
harmonia,

Tu
Casa objetiva-
Perfeição retilínea
A terra e a lógica do dia

Eu
Inquilino da lua
Profundo
Os sentidos e as quebras do dia

Instensidade
Densidade
A idade
Claridade
Amizade

As frases
As fases
As pazes

Em toda discordancia
Uma ansia
A distancia
Nossa leve infancia

Um brinde

A tudo que se cansa
A tudo que se lança
A tudo que se avança
A tudo que se alcança

05 outubro, 2006

Tardizim

A preta sussurra ao pé da serra:
- cade o moleque encardido?
A planta do pé está preta
Atrás da orelha está nem se fala

A enxada enconstou-se pelo dia
As nuvens sairam de fininho
O vento faz que não é com ele
O sol segue o seu caminho

O morro se espalha na gritaria
Atrás do capim cor de canela
Uma velha se aproxima da janela
Vive vida de vizinha

Menino se esconde da preta
Sente que todo tempo do mundo
Se estende ao infinito
Está tomando o leite da vaca: na teta

04 outubro, 2006

Varal dos sonhos

Enquanto esse cotidiano superficial
Crava suas raízes no meu íntimo
Minha alma – ah, esse algo instável
Finca morada no varal dos sonhos
De onde os ventos de meus pensamentos
Roçam resignados às passagens rotas de minha vida

À parte as marcas deixadas em meu rosto cansado
Em parte reflexo de um coração inerte
Na alma ainda sinto a razão e seu sofrimento latente
E essa profusão se esvai sem deixar vestígios, fuligem ou lembranças
Nela apenas se constrói vagarosamente
Imensas catedrais, supremas
Templos de minha fé profunda no nada
Absolutamente.

03 outubro, 2006

Limiar


O quadril se apruma,
A ponta está afiada,
A borracha está próxima,
O papel se espalha,
Uma idéia, o fio da navalha
- Hora da janta!
E pronto: deu branco.

02 outubro, 2006

Aos que passam frio

Navego em aguas calmas
Entre corpos de meninos de rua
Entre tantas calçadas
Me sentindo impotente
Diante do esplendor e o desespero
Respiro entre a fluencia de suas línguas
Entre a renascença e o aborto
Entre a lápide e o esgoto

Abro o mundo a minha volta
A razão se incomoda
A minha palavra, o meu desespero
Meu mundo e meu medo
Me cortam como não tivessemos chão
Pai, pão
Mãe, irmão

Nos equilibramos entre o céu a terra
Me vejo na horizontal
No ultimo quebrante
Na noite em que tudo vira ouro
Num passe da mais negra força
Nos olhos da mais linda moça
Serpente de louça

28 setembro, 2006

Beira Noite


Velha tarde,
sol fumaça
A luz se espalha,
Revirando as matas,
Beira rio, beira água.
O céu se escapa;
Surpreendendo os nexos,
Se emoldurava
Pelos reflexos
De sua forma calma,
Emaranhada,
Em nosso tronco,
A fé do novo
Se renovava
E em suas entranhas
Nossa morada.
Eu vou te ensinar:

Olhar as estrelas
Amar a Lua
Aprender com as montanhas
Abraçar o céu azul
Reverenciar o deus Sol
Se emocionar com o por-do-sol
Aprender com o amanhecer

Olhar pra si próprio: se conhecer
Ohar com amor as pessoas
Observar os comportamentos
Amar os nossos pais
A arte de viajar
O impulso de sonhar

O gosto pelo saber
Ver a forma se tecer
O olhar inusitado
O observar calado
Sentir a música invadir os sentidos

E aprender com você de novo a ser eu.




Pra Julia, meu amor

20 setembro, 2006

Cabeça,

membro ativo,
costura da alma

Círculo
Alvo
Altar da liberdade

à sua históra
quem se sabe calva,
certamente única
pulsa ao sabor da ansiedade
da cotidiana barganha com a vida
Coordenando a nossa involuntária sobrevivência

És chama da pretensa juventude.
És laranjal dos sentidos:
- “não julguai meus pensamentos, ó Deus!
São filhos renegados dessa sofrida inquietude!”

Testemunha inconteste.
Moldura dos olhos,
Parte do corpo,
sua essência
Parque dos sentimentos,
Conecta os quintais da alma
A essa exposição incansável
como um regurgitar eterno
de uma realidade instável

És testemunha calada,
Desses temores aguados
De um calma sem graça,
De uma mágoa inconteste,
Pendes perpendicular a vida
A espera de uma coroa,
Uma corda ou qualquer ousadia,
Encaras uma realidade incerta,
Olhando nos olhos de nosso tempo

És a infancia perdida,
És morte, és a semente,
És minha alegria,
Minha trajetória,
És o olhar turvo
da leveza da minha história

15 setembro, 2006

Noivado


Tudo se passou em um dia.
Decidi: é hoje!
No lugar de música de cinema, agonia
A unha se acostumou aos dentes
O encontro, pronto: é minha vez.
O som se lança no espaço;
Viagem sem volta;
Fração-infinito, ai, como demora…
A angústia da espera
O trilho:
Destino final!

Está feito, está dito.
Da boca ao ouvido:

- Casa comigo?

14 setembro, 2006

Conclusão


Não existe o futuro. A gente fica esperando e … só existe o presente.

13 setembro, 2006

Para o amigo

Olha fundo em meu olho.
Nossas vidas se jogam em um tempo obscuro
Nossos mundos se encontram, em silêncio
Comprimentam-me seus sonhos
Uma reverência à coincidência

Curvo-me diante tais luzes
Do nosso breu, a cegueira
Aos estrondos, a calma
A luz confortavel de nossa estrela

Um dia, a lua assinalava nossos céus
Uma estrela, um unico ponto
Uma velha herança de tempos do gelo
Por ti, amigo, tenho todo zelo.

A vida bate asas de beija-flor
(mais rápido que nosso tempo)

Por tudo celebraremos então;
A morte!
e de nossas vidas,
o eterno recomeço

12 setembro, 2006

Rebanho das Almas

Já não deslizam com muita freqüência,
como velhas fragatas em tempos revoltos
Envolvidos em ousadia, em mares remotos,
ou marchas concisas em terras suspensas,
as almas do mundo já não encontram silêncios

Já não lembram dos ecos, dos prismas
e nem são guardiões de vales ainda perdidos
E se hoje se econtram em corpos, o cais da vida,
são como velhos marujos, corroídos de dor

Hoje, coitadas, rasgam significados para um tempo perfeito,
se enfrentam com astúcia nos mares do amor
e se tocam caladas em noites, onde os sonhos se vão
Já calam com fúria as alegrias da paz

Tempos modernos, passado esquecido,
não buscam a morte, mas se assustam, um vício
e já irritam nas súplicas pelas misericórdias que barganham
Se quer encontrá-las, olhe atentamente os reflexos dos corpos,
ainda vagam tranqüilas pelos esgotos da vida.

um dia de setembro
O embrião e a Luz

Começam circundando caladas;
Construções em ruínas, arestas, montanhas
Distanciam-se vagarosamente dos sonhos mais remotos
Afiam-se as lâminas que cortam o mundo
Repartem um impulso coletivo.
O final. O ponto. Um baque doloroso para a noite.

Encontram-se rapidamente, legiões sem comando;
Espalham-se como amores em brasa.
Um assombro pela onipresença
Une-se o invisível ao meu olhar

Beijando suavemente como um amante apaixonado
Vira-se, rasga-se em unidade;
Espelha-se de braços abertos o semi-eterno.
Um tufão engole as estrelas opacas;
E espalham os seus naturais instintos,
Se foram perfeitas suicidas
Já não ousam mais cair.

A tristeza e seu antagonismo
Nuvens sem face apontam o norte;
Mistura-se com a permissividade de um futuro.
Um buraco estreito da morte;
A natureza e os sinos ecoam,
Perdendo-se no tom abaulado do seu azul.

Encontrem-me no horizonte.
Apontem o oposto.
Estou aqui, impávido.
Nasce mais um dia.
Abril

No dia que eu nasci
Os ventos sopraram em duas direções
Prenderam muitos homens
Uns protestavam
Dois se alegraram
O relógio marcou oito e meia duas vezes
Um homem abraçou outro homem

No dia que eu nasci
Um não sabia de nada
E em outro uma lágrima escapava
Um mundo que começava
Outros que terminavam
Houve um retrato
Um sorriso de mulher
Um dia
como um outro
qualquer
Apartamento

Meu coração é um farsante.
Ignora tanto o amor
Que, quando diz: não
(e de um jeito tão eloquente)
pode apostar,
nele mora bocados de gente

07 setembro, 2006

Suores

Beirada da vida.
É em si a angústia,
O que atormenta o espírito
Tormenta

Essa é a fascinação da certeza
Indecifrável sina que
corrói o tempo
as unhas, os panos
O sorriso nos velhos

é movimento insuspeito,
a sensação suave,
a carícia ,
o tempo
escondido nas arestas do vento

Do elo
Conciso, afiado
Repousa a alma
Brota o inevitável
o Injusto
o codinome da sorte
companheira do tempo
o ápice repulsa;

a morte
Ao amar

Lhe pergunto;

O que vale a vida sem amor?
É olhar para o próprio umbigo
E saber que nada resta, ao não ser esse laço
Essa calma inquieta que envolve o corpo,
Lar de nossa alma

De que vale viver sem a angústia
À espera de um novo dia, um novo amor
E ao reconhecer esse momento
Se resfaleca aos prantos, nos ombros da sorte
Finda, enfim, a busca pela noite
Uma outra alma, o norte

E se essa alegria cega ao despertar da aurora
Não nos resta mais nada, senão a ternura
O carinho, o velho ser humano, só
Com todo o prazer que repousa em sua história

Amar

Ao dizer que ama
Seja sincero
Preciso
Sinta a chama que arde
Em silencio, contida, constante


Quero dizer aos que lamentam os amores vãos
Não o faça, pois é perda de tempo
Se jogue sem medo à vida
Pois ela é unica e rara
E se hoje o amor falta aos corações
Permita a ele pulsar novas emoçoes


Viva sem restrição
Jogue fora as regras de amor
Todos seus os clichês, o chavão
Recicle a sua alma, recomeçe
Morra de paixão

Ame como uma mãe
Ame sem pudor
E se cale ao sofrimento,
Certamente ele virá, numa brisa de outono
Pois só a morte o salvará
Desse eterno tormento

E saiba quando tudo se acabar
Quando nada mais restar,
Se não for grande o amor que voce deixou
De que valeu amar?
Dos dias

Vamos falar do teu dia
E os dissabores dessa tua rotina
Do calor que chega e que lhe leva o sono
E dos dias que se foram e você não sabe como

Qual o sentido de tanta informação
Um mundo inteiro no meio de um turbilhão
Falam de Internet, genética, tecnologia irracional.
Encurralam o velho bicho-homem-animal

Mas onde mora tua sincera amizade?
Será que isso é coisa da idade
De esperar outra cultura que lhe invade
Encontrar a si mesmo em uma outra cidade

Isolam toda uma geração em guetos,
Separam os povos entre brancos, mulatos e pretos.
E então nos pede para conceder caridade
Seria bom se meus ouvidos já não me dissessem a verdade

Mais uma vez somos vítimas dessa sabedoria rala
Ao descobrirmos novamente que a decisão estava errada
É o peso exato uma incompetência velada
Sentir que tudo mudou e que não vai mudar nada