01 dezembro, 2006

Viver mínimo

A morte me chegou ontem
num impulso, um rasgo de luz, num corte
numa tarde de primavera
A morte me fitou sem pressa
e para seu próprio espanto,
a morte chorou minha espera

Como um vulcão, como a sorte
Se expandiu na amplidão
Com seus imensos braços abertos
Entrou de cabeça na vida
Saiu como um feto rasagando o útero

A morte que não quer mais morrer
Não quer ver a própria morte
A morte, tem um quê de fantástico
De loucura, de lunático
não cansa de tanto morrer
O ponto final
Tão simples como nascer
Tão improvável como viver

A morte me causa espanto
Causa a tormenta, o pavor
O inevitável, instável ser
Querer viver mais, porque?
Pra que mais angústia por morrer?

Aceitemos a morte
Que venha a morte
Nesse silêncio, nessa dor de outono
Como se morre?
Se nada além da vida é mais provável que a própria morte

Bem vinda seja toda a morte