28 setembro, 2006

Beira Noite


Velha tarde,
sol fumaça
A luz se espalha,
Revirando as matas,
Beira rio, beira água.
O céu se escapa;
Surpreendendo os nexos,
Se emoldurava
Pelos reflexos
De sua forma calma,
Emaranhada,
Em nosso tronco,
A fé do novo
Se renovava
E em suas entranhas
Nossa morada.
Eu vou te ensinar:

Olhar as estrelas
Amar a Lua
Aprender com as montanhas
Abraçar o céu azul
Reverenciar o deus Sol
Se emocionar com o por-do-sol
Aprender com o amanhecer

Olhar pra si próprio: se conhecer
Ohar com amor as pessoas
Observar os comportamentos
Amar os nossos pais
A arte de viajar
O impulso de sonhar

O gosto pelo saber
Ver a forma se tecer
O olhar inusitado
O observar calado
Sentir a música invadir os sentidos

E aprender com você de novo a ser eu.




Pra Julia, meu amor

20 setembro, 2006

Cabeça,

membro ativo,
costura da alma

Círculo
Alvo
Altar da liberdade

à sua históra
quem se sabe calva,
certamente única
pulsa ao sabor da ansiedade
da cotidiana barganha com a vida
Coordenando a nossa involuntária sobrevivência

És chama da pretensa juventude.
És laranjal dos sentidos:
- “não julguai meus pensamentos, ó Deus!
São filhos renegados dessa sofrida inquietude!”

Testemunha inconteste.
Moldura dos olhos,
Parte do corpo,
sua essência
Parque dos sentimentos,
Conecta os quintais da alma
A essa exposição incansável
como um regurgitar eterno
de uma realidade instável

És testemunha calada,
Desses temores aguados
De um calma sem graça,
De uma mágoa inconteste,
Pendes perpendicular a vida
A espera de uma coroa,
Uma corda ou qualquer ousadia,
Encaras uma realidade incerta,
Olhando nos olhos de nosso tempo

És a infancia perdida,
És morte, és a semente,
És minha alegria,
Minha trajetória,
És o olhar turvo
da leveza da minha história

15 setembro, 2006

Noivado


Tudo se passou em um dia.
Decidi: é hoje!
No lugar de música de cinema, agonia
A unha se acostumou aos dentes
O encontro, pronto: é minha vez.
O som se lança no espaço;
Viagem sem volta;
Fração-infinito, ai, como demora…
A angústia da espera
O trilho:
Destino final!

Está feito, está dito.
Da boca ao ouvido:

- Casa comigo?

14 setembro, 2006

Conclusão


Não existe o futuro. A gente fica esperando e … só existe o presente.

13 setembro, 2006

Para o amigo

Olha fundo em meu olho.
Nossas vidas se jogam em um tempo obscuro
Nossos mundos se encontram, em silêncio
Comprimentam-me seus sonhos
Uma reverência à coincidência

Curvo-me diante tais luzes
Do nosso breu, a cegueira
Aos estrondos, a calma
A luz confortavel de nossa estrela

Um dia, a lua assinalava nossos céus
Uma estrela, um unico ponto
Uma velha herança de tempos do gelo
Por ti, amigo, tenho todo zelo.

A vida bate asas de beija-flor
(mais rápido que nosso tempo)

Por tudo celebraremos então;
A morte!
e de nossas vidas,
o eterno recomeço

12 setembro, 2006

Rebanho das Almas

Já não deslizam com muita freqüência,
como velhas fragatas em tempos revoltos
Envolvidos em ousadia, em mares remotos,
ou marchas concisas em terras suspensas,
as almas do mundo já não encontram silêncios

Já não lembram dos ecos, dos prismas
e nem são guardiões de vales ainda perdidos
E se hoje se econtram em corpos, o cais da vida,
são como velhos marujos, corroídos de dor

Hoje, coitadas, rasgam significados para um tempo perfeito,
se enfrentam com astúcia nos mares do amor
e se tocam caladas em noites, onde os sonhos se vão
Já calam com fúria as alegrias da paz

Tempos modernos, passado esquecido,
não buscam a morte, mas se assustam, um vício
e já irritam nas súplicas pelas misericórdias que barganham
Se quer encontrá-las, olhe atentamente os reflexos dos corpos,
ainda vagam tranqüilas pelos esgotos da vida.

um dia de setembro
O embrião e a Luz

Começam circundando caladas;
Construções em ruínas, arestas, montanhas
Distanciam-se vagarosamente dos sonhos mais remotos
Afiam-se as lâminas que cortam o mundo
Repartem um impulso coletivo.
O final. O ponto. Um baque doloroso para a noite.

Encontram-se rapidamente, legiões sem comando;
Espalham-se como amores em brasa.
Um assombro pela onipresença
Une-se o invisível ao meu olhar

Beijando suavemente como um amante apaixonado
Vira-se, rasga-se em unidade;
Espelha-se de braços abertos o semi-eterno.
Um tufão engole as estrelas opacas;
E espalham os seus naturais instintos,
Se foram perfeitas suicidas
Já não ousam mais cair.

A tristeza e seu antagonismo
Nuvens sem face apontam o norte;
Mistura-se com a permissividade de um futuro.
Um buraco estreito da morte;
A natureza e os sinos ecoam,
Perdendo-se no tom abaulado do seu azul.

Encontrem-me no horizonte.
Apontem o oposto.
Estou aqui, impávido.
Nasce mais um dia.
Abril

No dia que eu nasci
Os ventos sopraram em duas direções
Prenderam muitos homens
Uns protestavam
Dois se alegraram
O relógio marcou oito e meia duas vezes
Um homem abraçou outro homem

No dia que eu nasci
Um não sabia de nada
E em outro uma lágrima escapava
Um mundo que começava
Outros que terminavam
Houve um retrato
Um sorriso de mulher
Um dia
como um outro
qualquer
Apartamento

Meu coração é um farsante.
Ignora tanto o amor
Que, quando diz: não
(e de um jeito tão eloquente)
pode apostar,
nele mora bocados de gente

07 setembro, 2006

Suores

Beirada da vida.
É em si a angústia,
O que atormenta o espírito
Tormenta

Essa é a fascinação da certeza
Indecifrável sina que
corrói o tempo
as unhas, os panos
O sorriso nos velhos

é movimento insuspeito,
a sensação suave,
a carícia ,
o tempo
escondido nas arestas do vento

Do elo
Conciso, afiado
Repousa a alma
Brota o inevitável
o Injusto
o codinome da sorte
companheira do tempo
o ápice repulsa;

a morte
Ao amar

Lhe pergunto;

O que vale a vida sem amor?
É olhar para o próprio umbigo
E saber que nada resta, ao não ser esse laço
Essa calma inquieta que envolve o corpo,
Lar de nossa alma

De que vale viver sem a angústia
À espera de um novo dia, um novo amor
E ao reconhecer esse momento
Se resfaleca aos prantos, nos ombros da sorte
Finda, enfim, a busca pela noite
Uma outra alma, o norte

E se essa alegria cega ao despertar da aurora
Não nos resta mais nada, senão a ternura
O carinho, o velho ser humano, só
Com todo o prazer que repousa em sua história

Amar

Ao dizer que ama
Seja sincero
Preciso
Sinta a chama que arde
Em silencio, contida, constante


Quero dizer aos que lamentam os amores vãos
Não o faça, pois é perda de tempo
Se jogue sem medo à vida
Pois ela é unica e rara
E se hoje o amor falta aos corações
Permita a ele pulsar novas emoçoes


Viva sem restrição
Jogue fora as regras de amor
Todos seus os clichês, o chavão
Recicle a sua alma, recomeçe
Morra de paixão

Ame como uma mãe
Ame sem pudor
E se cale ao sofrimento,
Certamente ele virá, numa brisa de outono
Pois só a morte o salvará
Desse eterno tormento

E saiba quando tudo se acabar
Quando nada mais restar,
Se não for grande o amor que voce deixou
De que valeu amar?
Dos dias

Vamos falar do teu dia
E os dissabores dessa tua rotina
Do calor que chega e que lhe leva o sono
E dos dias que se foram e você não sabe como

Qual o sentido de tanta informação
Um mundo inteiro no meio de um turbilhão
Falam de Internet, genética, tecnologia irracional.
Encurralam o velho bicho-homem-animal

Mas onde mora tua sincera amizade?
Será que isso é coisa da idade
De esperar outra cultura que lhe invade
Encontrar a si mesmo em uma outra cidade

Isolam toda uma geração em guetos,
Separam os povos entre brancos, mulatos e pretos.
E então nos pede para conceder caridade
Seria bom se meus ouvidos já não me dissessem a verdade

Mais uma vez somos vítimas dessa sabedoria rala
Ao descobrirmos novamente que a decisão estava errada
É o peso exato uma incompetência velada
Sentir que tudo mudou e que não vai mudar nada