29 dezembro, 2011

Caligrafia


A velha dor sempre a me espreitar
Envelhece minha alma jovem cansada
Mas não existe pena, não há papel amarelado
Restos de rascunhos de planos mal traçados, ratos

As marcas de noites mal dormidas
Estão impressas na pele
Vide o verso no meu peito
Capricho na caligrafia nas linhas da minha palma
Lá escrevo minha idade (onde se esvai minha vaidade)

Há sobrepeso na minha consciência
Manchando o poente dessas minhas memórias
Na pororoca dos rios da alegria e da tristeza
O passado passado a limpo não exala glórias
Não há medalhas, nem vaias, nem aplausos

Ao redor dos meus olhos: linhas
No corpo castigado pelos lençóis
Tinha o amor  calado em nós
Na espreita do óbito óbvio de nosso olhar

Vejo caminhões de mudança na minha porta
Vejo a volta toda que se dá
Vejo crianças, vejo a cor do sol,
Vejo no olho de minha filha
O reflexo luminoso de meu olhar




28 dezembro, 2011

Bangela




O resto de tudo, todo o resto
Assombra minha vida tanto
Qual é a cola, qual a ponte, a recompensa do convívio
Com quais sonhos, com quais amigos
Conquistar o que, perder quanto


Falar de amor com quem, fazer quando
Falar da dor que se retorce encharcada de saudade
Reclamar do desânimo cotidiano, do trânsito
Falar mal dos que partem, dos que te abandonam
Estranhar os que chegam, rabos abanando
Chegam quando, quando chegam


Comemorar Natal, Ano Novo
Olhando o desespero das famílias
O corpo fala, o olho escapa
Falam com o complexo latindo


A vida passa muito rápido
Vagarosamente
E se perdem as pessoas
Como se perdem os dentes
E o que fazer daqui pra frente


?