Ergue-te agora desse leito e rasga, sem piedade, a carne da manhã.
Vai, descortina devagar os mil véus que o dia traz.
Vai chorando e sorrindo, meio conformada, entre galos e latidos, como quem atravessa um furacão.
Escuta essa louca que se debate no fundo do peito, clamando por direção.
Hoje, tocarás o céu — o pai da tua morada, o teto da tua paixão.
Ainda de manhã, cumpre tua obrigação com os dentes: eles triturarão tudo o que o dia colocar em tua mão.
Afaga tua boca, cúmplice e traidora — hoje ela lutará ferozmente pelo pão.
Sai em busca do tudo e do nada, como se teu ofício fosse jogo, sina ou pura ilusão.
Estenda os lençóis, mergulhe no banho, encare a louça, abrace o chão.
Faz dos estilhaços do agora a costura possível da razão.
 
