Era hora do crepúsculo e reencontrei o seu olhar
Seu contorno único revelou-se em minha lembrança
Ali entrelaçamos fragmentos da nossa memória
Você vinha do oriente ou fugia de um acidente qualquer
Sem pedir licença, passagem ou permissão para amar
Flutuando meus olhos pelas suas formas
de menina
Me foi revelada as insuspeitadas
curvas do seu sorriso
Traçei minha sina na pele escura riscada em seu ombro
Onde um pássaro raro foi queimado junto ao nosso juízo
Destino gêmeo de uma linda estrela descartada no ninho
Quando enluarados confessamos segredos obscuros
Me rendi ao charme deste sonho, um barco a vela no ar
Quis ser o seu oposto, o dois, uma conquista sorrateira
Escondia meus segredos infames e falava de paixão
Mas a realidade espelhava a incerteza em seu olhar
No baú dos meus erros reencontro a mesma cicatriz
Quando senti a negação de sua forma em estado bruto
Encontrei o ser orgulhoso, um menor, um aprendiz
Que angustido se viu segurando a tocha do desejo
Em busca de mais uma dose, uma
contra-dança, um beijo
Quando se levanta a lona do circo do amor
Somos o palhaço sem nariz, sem público, sem picadeiro
Somos malabaristas da alegria, miseráveis, mágicos
Seres que se jogam no escuro profundo da própria retina
Equilibrando a amizade nos pratos inseguros da razão