02 outubro, 2017

Finalização



A boca do precipício da nossa harmonia escancara-se sob nossos pés
Expondo toda a fragilidade de um amor que anda firme como criança
Sopravas um dente-de-leão esvoaçante nas minhas memórias de rodapé
Nota fora do tom executada com maestria no contratempo de nossa dança
Queimamos no fogo ideias vívidas, revelações afobadas, teorias desencontradas
Mas suas certezas perfuram meu coração como o cume pontiagudo de uma lança
Sentença sumária proferida no calor errante de uma triste metrópole

Esquecendo-se da paz silenciosa que sobrevoou o nosso leito de amor

Não consigo remover os véus ocultos por trás deste mistério profundo
Sigo confiante que o coração será acalentado por uma lógica incontestável
Mas tudo o que vejo agora no nosso horizonte é opaco, obtuso, insosso
Tento segurar com minhas mãos trêmulas o fruto deste aborto
Queria poder nadar novamente solto no mar da nossa paixão
Chegando inteiro na praia, te imagino novamente um imenso oásis, um porto
E sorrateiro tasco um beijo na boca do absurdo imaginário desta sua razão

12 abril, 2017

A última valsa da dor




A solidão enlaça a consciência que faz perceber o momento presente
E lá não encontra os erros recorrentes dos ciclos perfeitos da ilusão
És a dor dos miseráveis, dos ardentes de paixão, dos moribundos
Ou as lindas festas à luz do luar onde lhe via passar calada, sorrateira
Onde admiravas pelas frestas o torpor, os sorrisos fartos – a alegria

És a luz que se fez presente na intensidade ensurdeçedora da escuridão
Infinito que se dobrou em partículas sincronizando o seu passo
Onde entrelaço a sua mão com a minha e dançamos uma valsa estranha,
Como um arco e uma flecha esticada no limite exato, como um compasso
Retesado pela sagacidade azeitada nos limites insanos da razão

Em vão, estamos cavando fundo as rasas certezas de tudo o que foi vivido
Uma vivência inexata que se equilibrou nas leis indomáveis da sorte
E quando o dia vem clarear a insanidade, quem sabe o clamor da idade
Ou a vontade de partir do mundo por dever cumprido
Subtraistes uma noite quando chegastes quieta, trazendo o barulho do nada
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E deste nada construistes o alicerce majestoso da minha morte