05 janeiro, 2007

Do cais

Do cais

Quando você desgrudou de mim
Éramos jovens
Não me dava conta
Que meus pés se despediam de um imenso mar.

Quando te vi calada
Pressenti um imenso horizonte
Uma árdua travessia, um abismo profundo
De onde não existe mais a ponte

Então, como um vulto, você acenou pra mim
Então percebi que para amar
Não importa a idade
Revogaríamos até a gravidade

Sei que pra nós não existe lei
No nosso reino não existe rei

Só o tempo que insiste
Em me dizer
Que esse sim
Não perdeu a vocação para sonhar.

Memorabilia

Memorabilia

Mora em mim uma freira, uma puta
Em cada esquina de meu corpo
Mendigos, moribundos
Moram pequenos seres, átomos
Sistemas solares

Moram lindas praças, plantas
Moram túmulos esquecidos no tempo
Mora a chuva, o vento
Mora em mim o luzeiro
Um navio, um rio
Uma longa viagem

Mora em mim uma imensa árvore
Toda criação
Uma invenção chamada vida
Mora em mim a ambição, uma traição
A calma, a maldade
Mora toda a cidade

Moram meus olhos, meus órgãos
Muitos órfãos
Moram em mim muitos gigabytes
Meu sangue
Mora dentro de mim um muro gigante

Mora meu coração
Minha filha
Mora a alma, a idade
Mora em mim o mundo
Deus e o Diabo
Mora você
Mora dentro de mim uma enorme saudade